sexta-feira, 30 de novembro de 2012

NASCIMENTO DA POESIA






NASCIMENTO DA POESIA


Eva não comeu da maçã no Paraíso, comeu um figo.
Estava embaixo de um figueira,
opulenta,
carregada de figos maduros, abertos ao sol de tão maduros,
e não em baixo de uma macieira,
essa árvore sem graça
que produz umas frutas sem graça
como areia
molhada.
Adão comeu o figo e soube que era bom. Adão conheceu
o bem e o mal
e cobriu-se com as folhas da figueira.
Adão e Eva foram expulsos do Paraíso cobertos de folhas
de figueira.
Tinham descoberto o sexo e o amor entre um homem
e uma mulher
e estavam felizes e tristes como um rouxinol
no escuro
da madrugada – nessa hora em que se abre o ovo da poesia.





terça-feira, 27 de novembro de 2012

UMA CIGARRA





UMA CIGARRA


Uma cigarra canta na minha memória.
Estou sozinho ouvindo uma cigarra.

É noite já e ela ainda canta.
As luzes se apagaram, todos os pássaros se calaram,
até os grilos se calaram e ela ainda canta.

Talvez se apague a lua, talvez se apaguem
as estrelas, talvez venha a noite definitiva
e ela ainda cante.





segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A COZINHA CAIPIRA, de Almeida Júnior





                                      A PRIMEIRA VEZ
 


A primeira vez que eu vi uma pintura,
quase caí para trás com tanta luz.
Foi na Av. Rodrigues Alves,
numa exposição ao lado da Catedral,
lá por 1967.
Era a “Cozinha Caipira”, de Almeida Júnior,
não era uma pintura moderna –
e eu estava aprendendo (na faculdade
e na vida) que só valia
o que tinha a chancela do moderno.            
Aprendi de repente que arte é outra história.
Não importa a idade, não importam as regras
ou a falta de regras.
O que importa é a luz, mais nada.
Arte é iluminação.



José Carlos Brandão








sábado, 24 de novembro de 2012

A CIGARRA TRANSLÚCIDA







A CIGARRA


A cigarra canta com o sol a pino,
a cigarra morre cantando.
É tanto o sol
que nem percebe.

(Translúcida
jaz
sobre as pedras do caminho.)







quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A TRILHA




A TRILHA


Eu andava numa trilha no meio do mato
entre pedras cobertas de limo
eu tinha a beleza nos olhos
nos raios do sol filtrados pelas folhas das árvores.



                   José Carlos Brandão